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Angola uma nação destruída pela Guerra

Cheguei em Luanda, trazendo entre minha bagagem, uma imensa disposição e coragem para alcançar almas para Cristo.

Logo nas primeiras horas de Luanda (já no quarto do hotel), aproveitando que os irmãos que estavam tratando da minha recepção, me deixaram só para tomar um banho, pois em seguida teria que descer para o café da manhã, aproveitei o estar só, e antes de entrar para o banho, dobrei meus joelhos na beira da cama, e comecei agradecer a Deus pelo que Ele estava fazendo em minha vida e na vida de nossa igreja.

Num certo período da oração, senti um forte aperto em meu peito, misturado ao sentimento de uma forte angustia, e não entendendo o que se passava, continuei orando, assim mesmo agradecia a Deus, e num dado momento, Deus falou dentro de mim, que Ele estava mudando os planos da minha missão, e que os projetos trazidos, teriam que ficar em segundo plano, pois ele estava me entregando uma nova missão, que é a de restaurar vidas de muitos que estão dentro da Igreja.

Confesso que a principio não estava entendendo, pois não conhecia ainda as igrejas aqui, o contato que havia tido com a igreja era somente o relacionamento com aqueles irmãos que foram me apanhar no aeroporto, que me trouxeram para o hotel, e alem disto, não conhecia nada mais acerca da igreja aqui em Luanda, mas terminando de orar fui para o meu banho.

Terminando o banho desci para a cafeteria do hotel, ali me esperava um pastor que estava responsável pelo que aqui eles chamam de protocolo.

Deixando a cafeteria fui para a sala de entrada do hotel onde estava a recepção, e ali um grupo maior de pastores e obreiro e esposas de pastores e membros estavam me aguardando para conhecer me.

Logo no primeiro contato, após Deus ter falado ao meu coração sobre a mudança de tática para o alcance de almas, ali pude observar o porque da palavra dada por Deus enquanto orava.

Passei a observar que havia um ponto de convergência, que durante uma hora de conversa me levaram a entender a realidade vivida pela igreja aqui em Angola, que era “As feridas deixadas pela guerra”

Naquele período de conversa, Deus me fez entender, que antes mesmo de partir para o “Alcançar de almas para Cristo”, existe aqui em Angola uma necessidade imensa de um RESTAURAR DA ALMA, de muitos dentro das igrejas.

Com o passar dos dias, observei que o hotel onde estava, ficava situado, exatamente no ponto divisório, entre as duas realidades de Luanda.

Saindo do hotel, e indo em direção ao centro da cidade, (ainda que devastada), encontrei muita construções sendo edificadas, mas por traz das imponentes construções, milhares de barracos, quando se passa por algumas avenidas não se imaginam o que esta escondido por detrás das construções da avenidas pois elas são apenas fachada pois por traz, é só pobreza.

Mas tomando a direção em sentido contrario, a história é totalmente outra, pois o povo que vive aqui nesta outra realidade, são pessoas que na maioria, não falam o Português, pois são angolanos que nasceram em países visinhos, pois seus pais refugiaram ali da guerra.

Este povo ao retornarem para Angola, ficaram excluídos ate o ano passado, eram tido como desertores, e mal visto pelo governo Angolano, e é exatamente no meio deste povo que Deus me colocou para falar do seu grande amor.

Para que se tenha idéia de onde estou trabalhando, o melhor exemplo que encontrei para relatar, é uma imagem conhecida pelos brasileiros de uma grande favela muito pobre.

A diferença daqui é que os barracos são construídos por blocos, no famoso sistema meia água, cobertos por folhas de zinco, onde a precariedade levam a encher os telhados de blocos de cimento, de rodas velhas de carros, e muitos outro objetos, para o vento não tirar o telhado das casa. Olhando de cima para baixo só se vê folhas de zinco com blocos e outros materiais pesados.

Não existe nas casas, água, luz, banheiro, camas (pois eles dormem no chão sobre um lençol estendido dormem um do lado do outro), sem fogão, e sem rede de esgoto, o banho é frio e de caneca.

As casas são construídas sem projetos uma após a outra, e para ganharem espaço, não existem ruas com muitos becos, parecendo um jogo de labirinto, onde não entram carros, e assim por diante.

Quando estive na Embaixada de Angola em Otawa, para tirar o visto, ouvi da pessoa que me atendeu ao ver que estava em uma caminhonete 4x4 com rodas altas, ela me disse “este carro é mesmo bom para Angola”

E quando cheguei aqui, observei que havia uma preferência por carros com tração nas quatro rodas, e a curiosidade, me levou a perguntar ao irmão que estava de motorista, e que me transportava perguntei: “Porque aqui existem quase que somente carros grandes com tração nas quatro rodas?

A resposta foi curta “se não for este tipo de carro aqui não anda”, confesso que não entendi a resposta, mas não tratei de fazer outra, e no caminhar pelas rua obtive esclarecimento do que acontecia: ás ruas aqui todas são de um estado de conservação horrível, onde existem lugares que estamos andando parece que o carro vai tombar com tantos solavancos, que me fez imaginar Celeste aqui comigo, como seria?

O que acontece é que por não haver rede de esgoto, em muitas ruas chega ser necessário ligar a tração dos carros, para atravessar a lama negra e mal cheirosa (aqui é muito comum ver ruas intransitáveis justamente por estas lamas), que é produzida pelo esgoto e pelo trafego de carros.

Para se ter uma idéia, no primeiro sábado, indo para pregar em uma igreja, o carro atolou em uma destas lamas, a água alcançou o motor e parou o motor, ficamos atolado em meio uma destas lamas negras mal cheirosas por mais de uma hora, e foi necessário aguardar um trator para nos tirar dali que demorou mais de uma hora.

Para evangelizar este povo, e ministrar cura da alma, tenho sido sempre acompanhado por tradutores (Frances,Lingala,Kikongo e Umbundo), para que possa comunicar com eles.

As igrejas que tenho pregado estão exatamente no meio deste povo, são todas muito longe, e temos muitas dificuldades de locomoção, pela falta de um carro.

Aqui existem vans que fazem o transporte coletivo, mas os irmãos não me deixam utilizar este transporte coletivo, pois afirmam ser perigoso para mim.

Não me deixam sair só, sempre mantendo um irmão angolano do meu lado, (em matéria de atenção para comigo, tiro o chapéu para eles, pois estou tendo uma tremenda lição do que é honrar um servo de Deus), não me deixam carregar a Bíblia, pois para eles, é uma grande bênção estar auxiliando um servo de Deus.

Certo dia, tratei de tirar a minha bolsa de computador do ombro de um irmão, ele me disse com os olhos triste: “Bispo, não me tires a benção de ajudar um servo de Deus a levar a sua carga”), e tive com isto uma tremenda lição, pois em nossas igrejas quase já não existem nem respeito pelos lideres e homens de Deus, pois já os tratam como qualquer um.



Conversando, com pessoas, uma coisa fica clara, mesmo dentro das igrejas, as feridas causadas pela guerra estão latentes em mais de 90% das pessoas, e assim Deus me fez entender o que me disse quando da minha chegada aqui em Angola.

Pastores afirmam que na época da guerra, quando ouviam o estrondo de bomba, ou o barulho de tiros, as pessoas para não morrerem corriam para a floresta em busca de proteção, e ali passavam muito tempo escondidos, tratando de protegerem suas vidas e a vida de suas famílias.

Muitos ainda não conseguem dormir um sono tranqüilos pois ainda estão sobressaltados pelas situações vividas no passado não muito longe.



Existe na igreja pessoas que no corre corre da guerra, esconderam suas mulheres e filhos em buracos, e em seguida fugiam para outro lado na tentativa de desviar atenção de soldados e guerrilheiros, tratando assim de dar proteção as suas mulheres e filhos.

Infelizmente, muitos neste dissimular para atraírem atenção de soldados e guerrilheiros, muitos perderam suas vidas para salvar sua família, enquanto por outro lado, muitos ficaram sem família, pois foram encontrados por soldados ou guerrilheiro, e, foram mortos.

Muitas esposas que ficaram dentro de valas com filhos, sem comida e sem água, morreram de fome e de sede.

Nas cidades e aldeias, Jovens eram caçados como se caçam um animal, e sendo presos, eram enviado sem treinamento algum para as frentes de batalhas sem preparo algum, poucas são as famílias que não perderam algum de seus membros na guerra (isto abriu uma ferida na alma destas pessoas, e muitos não conseguiram cura las).

Após o termino de uma vigília, em uma igreja que estive ministrando a Palavra de Deus, eram 5:00 horas da manha, estava aguardando o carro que vinha me apanhar para levar ao hotel, estando ainda escuro, e estando ao lado de um jovem pastor que me acompanhava como tradutor, em um momento ele fez um silencio, e olhando para umas lâmpadas que estavam acesas, voltando pra mim com os olhos cheios de lagrimas disse: “Bispo, no tempo da guerra, estas lâmpadas não podiam ficar acesas, e durante a noite, soldados, guerrilheiros e marginais, invadiam casas para saquear, não encontrando o que levar, abusavam sexualmente de mulheres na frente do esposo e filhos, abusavam sexualmente de filhas perto de pais e irmãos(aqui existem os chamados filhos da guerra, que são aqueles que nasceram destes abusos praticados, quem nem sabem quem é o seu pai), e como a guerra era entre duas facções políticas, cada uma delas possuíam seu símbolos estampados em camisetas que davam as pessoas (o símbolo do governo era um galo, e dos revolucionários, a foto do comandante Sabino, líder da revolução). Estas camisetas em determinado casos, serviam como um instrumento de proteção, pois ter uma em casa, poderia livrar a família da morte caso a sua casa fosse invadida por soldados comandado pelo mesmo partido (mas as camisetas não livravam dos abusos sexuais). Mas quando invadiam casas e encontravam a tal camiseta do adversário, os soldados faziam com que vestissem e zombando diziam para as pessoas que haviam vestido a camiseta “não gosto deste galo ou não gosto deste homem, mas não se preocupe que nos não iremos fazer nada com você, só vamos matar este galo ou este camarada porque nos não gostamos dele, e zombando das pessoas diziam, nos perdoem pois não temos nada contra ti”, eles atiravam nas pessoas vestidas com a tal camiseta que supostamente era como símbolo de proteção. Com os olhos cheios de água e a voz cortada, aquele jovem pastor me disse apontando para um monte de lixo(que é muito comum encontrar pelas ruas aqui em Luanda) que estava próximo de nos dizendo: Bispo quando os dias amanheciam, por todas as parte, eram encontradas pessoas amontoadas do tamanho daquele monte de lixo, e aquele jovem pastor voltou a abaixar a cabeça, e ficou novamente em silencio”


Muitas pessoas têm vindo ate a mim para receberem orações, e assim tenho trabalhado com a finalidade de ajudar a estas pessoas a se libertarem destes traumas.

Louvo a Deus, pois Ele tem posto palavras em minha boca, e tem me dado muita força, onde é comum ver pessoas com lagrimas nos olhos quando prego ou aconselho.

A juventude angolana, de um modo geral está com seus corações cheios de ódio, falam somente em violência, não vão as escolas (que são muito poucas).

Creio que ainda se levara pelo menos vinte anos para que Angola tenha uma população mais sadia, e tenho dito que a Igreja de Cristo Jesus, tem um papel importantíssimo neste processo de mudança.

A igreja de Angola precisa de sua ajuda em todas as áreas, (oração, contribuições financeiras) para que juntos possamos a fazer diferença, alcançado almas para o reino de Deus Nesta nação.


Ajude-me a ajudar Angola .


Deus os abençoe



Bispo Raimundo Monteiro